O Anima Podcast de 1º de maio de 2025, episódio #198, traz uma discussão aprofundada sobre o futuro da Igreja Católica, com foco especial no Conclave de 2025. Neste episódio, Rafael Camerote Soares substitui Kenia, que está se recuperando de uma cirurgia, para conversar com o Monsenhor Sérgio Costa Couto, capelão da Igreja Doeiro da Glória e mestre em teologia pelo Ateneu Romano de Santa Croche. A conversa aborda o legado do Papa Francisco, o processo do conclave e as complexidades envolvidas na eleição de um novo Papa.
Participantes do Podcast
- Rafael Camerote Soares: Filho de Kenia, substitui sua mãe neste episódio. Rafael participa da conversa, trazendo suas perspectivas e perguntas sobre o tema.
- Monsenhor Sérgio Costa Couto: Capelão da Igreja Doeiro da Glória, mestre em teologia pelo Ateneu Romano de Santa Croche e membro da ordem equestre do Santo Sepulcro. Monsenhor Sérgio oferece uma análise detalhada e informada sobre o processo do conclave e o futuro da Igreja Católica.
- Kenia (mencionada): A apresentadora usual do podcast, ausente devido a uma cirurgia recente.
Análise Detalhada do Vídeo
A discussão começa com uma homenagem ao Papa Francisco, que faleceu recentemente, e uma reflexão sobre seu legado. Monsenhor Sérgio enfatiza que o novo Papa será um sucessor de Pedro, não apenas um substituto de Francisco, e que o mais importante é que ele continue a guiar a Igreja com sabedoria e fé. O legado de Francisco é abordado com respeito, destacando a importância de se consultar as entrevistas do Papa em espanhol para uma compreensão mais autêntica de suas opiniões. A conversa evita polêmicas, concentrando-se em fatos e tradições.
O Legado do Papa Francisco
Monsenhor Sérgio destaca a dignidade da morte de Papa Francisco, ocorrida em pleno exercício de suas funções. Ele incentiva o público a buscar as entrevistas em espanhol do Papa para obter uma compreensão mais sincera de suas opiniões, ressaltando que muitas vezes as interpretações de seu pontificado são distorcidas por diferentes perspectivas.
O Monsenhor Sérgio desmistifica algumas das críticas direcionadas ao Papa Francisco, como a alegação de que ele rejeitou o apartamento pontifício por luxo. Ele esclarece que a escolha de morar na Casa Santa Marta foi motivada pela busca de um ambiente mais simples e comunitário, sem que isso o impedisse de utilizar o apartamento pontifício para o trabalho diário.
A decisão de ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, e não na Basílica de São Pedro, também é explicada como um ato de devoção pessoal, reiterando que papas anteriores foram sepultados em locais diversos por razões semelhantes. O uso de sapatos ortopédicos, frequentemente associado a uma suposta busca por simplicidade, é apresentado como uma necessidade médica, desfazendo equívocos e destacando a importância de uma análise mais profunda e menos superficial das ações do Papa Francisco.
A austeridade de Bento XVI também é mencionada, ressaltando que ele utilizava os paramentos já existentes, demonstrando uma valorização da simplicidade e da durabilidade, em consonância com os princípios beneditinos. A discussão enfatiza a importância de não diminuir a figura do Papa Francisco com interpretações simplistas, reconhecendo sua formação jesuíta e sua profunda compreensão das questões teológicas e sociais.
Questões Ideológicas e o Pontificado
O Monsenhor Sérgio levanta a questão de como certos aspectos do pontificado de Francisco, como as bênçãos aos casais homossexuais, a ênfase na austeridade e a preocupação com a ecologia, são por vezes utilizados fora de contexto, moldando uma imagem específica do Papa que nem sempre corresponde à totalidade de sua visão. Ele destaca que a preocupação com a ecologia não é uma novidade, mencionando teses sobre o tema já em 1989 e 1990. O foco na “casa comum” deve ser teológico, enfatizando o uso responsável dos recursos naturais, e não a idolatria da natureza. A ecologia é apresentada como uma responsabilidade cristã, um legado material a ser preservado para as futuras gerações.
As Mudanças no Rito de Funeral
As mudanças no rito de funeral, implementadas pelo Papa Francisco, são analisadas em detalhes, esclarecendo que muitas dessas alterações visavam simplificar e agilizar o processo. O Monsenhor Sérgio explica que, após a constatação do falecimento, o camerlengo anuncia a morte, mas a antiga prática de bater com um martelo para verificar se o Papa estava vivo foi abolida. O médico de confiança do Papa, que dedicou sua vida aos seus cuidados, é reconhecido por sua importância nos últimos momentos.
As mudanças incluem a utilização de uma plataforma mais baixa para o corpo, facilitando a visualização pelos fiéis, e a eliminação dos três caixões, substituídos por um único caixão revestido de zinco. O Monsenhor Sérgio esclarece que essas mudanças foram motivadas pela busca de maior simplicidade e dignidade no processo, evitando as dificuldades e demoras observadas no sepultamento do Papa Bento XVI.
A tradição dos nove dias de luto, os “noveniales”, é explicada, mencionando que a celebração no sétimo dia não é uma exigência litúrgica, mas sim uma prática cultural. O Monsenhor Sérgio compartilha uma perspectiva pessoal sobre a importância de celebrar missas o mais rápido possível após o falecimento, para auxiliar a alma do falecido em sua jornada espiritual.
O Pré-Conclave e as Congregações Gerais
Enquanto o Papa está sendo velado, o pré-conclave tem início, com as congregações gerais reunindo os cardeais de todo o mundo. O Monsenhor Sérgio destaca que a demora na chegada dos cardeais pode ser influenciada por fatores geográficos e culturais. Ele menciona que o Papa Francisco buscou uma maior universalização da Igreja, nomeando cardeais de diversas regiões, incluindo ilhas do Pacífico, o que pode dificultar a logística da chegada de todos os eleitores.
O processo de nomeação de cardeais também é abordado, explicando que, ao contrário do que acontecia anteriormente, o Papa Francisco não consultava os futuros cardeais com antecedência, tornando o anúncio uma surpresa. O Monsenhor Sérgio ressalta que a função de um cardeal vai além da participação no conclave, envolvendo também o aconselhamento ao Papa e a participação no governo da Igreja. A questão dos cardeais com mais de 80 anos é levantada, esclarecendo que eles não têm direito a voto, mas podem participar das congregações, contribuindo com sua experiência e sabedoria.
O Monsenhor Sérgio explica a importância de um livro chamado “Sede Vacante”, que trata da legislação e dos procedimentos durante o período entre a morte de um Papa e a eleição de seu sucessor. Ele menciona o princípio “Niklinnovetor”, que determina que nada deve ser mudado durante a sede vacante, exceto as questões administrativas urgentes. A conversa detalha as decisões tomadas pelos cardeais nas congregações, incluindo a confirmação de que todos os cardeais com menos de 80 anos votarão.
O Filme “Conclave” e a Realidade da Eleição Papal
O filme “Conclave” é mencionado como um exemplo de como a eleição papal é frequentemente retratada de forma distorcida, com intrigas políticas e conspirações. O Monsenhor Sérgio esclarece o conceito de “cardeal Impactory”, explicando que se trata de um cardeal nomeado em segredo pelo Papa, geralmente para proteger o indivíduo em situações de perseguição ou risco. Ele enfatiza que a nomeação só se torna oficial se o Papa declarar publicamente, e que não se trata de uma simples carta ou bilhete.
A discussão aborda a importância de não confundir a ficção com a realidade, ressaltando que o filme “Conclave” apresenta uma visão excessivamente política e conspiratória do processo eleitoral. O Monsenhor Sérgio enfatiza que os cardeais, em sua maioria, buscam o bem da Igreja e que as divergências de opinião são normais, mas não justificam sabotagens ou conspirações. Ele cita uma entrevista em que o Papa Francisco afirma que alguém que ambiciona ser Papa não gosta de si mesmo, tamanha a renúncia e o peso do cargo.
O Processo do Conclave e a Busca pelo Sucessor de Pedro
O Monsenhor Sérgio enfatiza que todos os cardeais desejam o bem da Igreja, e que as discussões e debates são parte natural do processo. Ele compara a situação a uma associação, onde diferentes opiniões e abordagens são debatidas antes de se tomar uma decisão. O importante é que, após a decisão, todos trabalhem juntos em prol do bem comum.
O Monsenhor Sérgio destaca a importância da universalidade da Igreja, mencionando que o Papa Francisco tinha uma preocupação especial em falar para fora da Igreja, o que gerou algumas críticas internas. Ele explica que os cardeais se reúnem no pré-conclave para discutir a realidade da Igreja em diferentes partes do mundo. Ele menciona que o Cardeal Ratzinger (futuro Papa Bento XVI) era conhecido por sua memória fenomenal e sua capacidade de resumir os temas discutidos, o que contribuiu para sua eleição.
A conversa aborda a questão do juramento dos oficiais eclesiásticos e leigos que participam do conclave, garantindo o sigilo do processo. O Monsenhor Sérgio explica que, dentro da Capela Sistina, apenas os cardeais eleitores têm permissão para permanecer durante a votação. Ele menciona a construção de um piso especial na Capela Sistina, com o objetivo de aumentar o espaço e garantir a segurança contra escutas.
O Monsenhor Sérgio enfatiza a importância de se ter padres de diversas línguas disponíveis para atender às confissões dos cardeais durante o conclave. Ele explica que os cardeais tomam café da manhã, almoçam e jantam juntos, mas é fundamental que todos os envolvidos no serviço (cozinheiros, pessoal da limpeza, etc.) mantenham o sigilo sobre o que ouvem e veem.
O juramento dos oficiais do conclave é detalhado, mencionando que ele ocorre na Capela Paulina do Palácio Apostólico. O Monsenhor Sérgio explica a função do cardeal decano e do cardeal Parolim, que preside o conclave devido à idade avançada do decano. Ele também menciona a importância da homilia do cardeal re decano, que pode ser um sinal do rumo da eleição.
A discussão aborda a possibilidade de um cardeal com mais de 80 anos ser eleito, mesmo não tendo direito a voto. O Monsenhor Sérgio explica que as questões canônicas relacionadas à excomunhão garantem o direito de participação no conclave, e que a decisão final cabe ao próprio cardeal. Ele também menciona a possibilidade de cardeais votarem na Casa Santa Marta, caso não tenham condições de se deslocar até a Capela Sistina.
As Votações e a Eleição do Novo Papa
O Monsenhor Sérgio explica que o processo de votação é complexo, com duas votações pela manhã e duas à tarde. Ele detalha como os votos são contados, amarrados e queimados, e como a cor da fumaça indica se um Papa foi eleito ou não. Ele menciona que a fumaça branca causou confusão na eleição de Bento XVI, e que Dom Lourenzo Baldisse cuidou para que a fumaça fosse inequivocamente branca na eleição de Francisco.
O Monsenhor Sérgio especula sobre a data da eleição, ressaltando que depende do grau de certeza e coesão entre os cardeais. Ele explica que a primeira votação é geralmente exploratória, e que as votações subsequentes são mais decisivas. Ele menciona que a eleição de João Paulo I foi rápida, enquanto a de Francisco foi mais demorada.
A discussão aborda a possibilidade de um Papa ser eleito de fora do colégio cardinalício, e os procedimentos a serem seguidos nesse caso. O Monsenhor Sérgio explica que o eleito deve ser chamado pelo substituto da Secretaria de Estado, e que a comunicação deve ser feita de forma discreta, evitando os meios de comunicação social.
O Monsenhor Sérgio explica que, se o eleito não for bispo, ele deve ser ordenado bispo antes de poder aceitar o cargo de Papa. Ele menciona o livro do Padre Jesus Hortal, que trata do início do poder primacial do Romano Pontífice, e que defende que o Papa se torna Papa quando é eleito, aceita o cargo e é bispo.
O Monsenhor Sérgio explica os procedimentos a serem seguidos após a eleição, incluindo a pergunta ao eleito se ele aceita o cargo, a escolha do nome papal, e a troca de vestes na sala das lágrimas. Ele menciona que o anel papal e o pálio são colocados no Papa durante a cerimônia de entronização.
Reflexões Finais e Bênção
O Monsenhor Sérgio enfatiza a importância da diversidade na Igreja Católica, mencionando diferentes grupos e espiritualidades. Ele destaca a importância da unidade na fé e na obediência ao Papa, mas reconhece e valoriza as diferenças individuais. Ele menciona a importância de se rezar pelo Papa Francisco, pelos cardeais no conclave e pelo futuro Papa.
O Monsenhor Sérgio encerra a conversa com uma bênção, pedindo a intercessão da Virgem Maria e de São Pio V. Ele agradece a Rafael por substituir Kenia e convida o público a continuar rezando pela Igreja Católica.
Conclusão
O episódio #198 do Anima Podcast oferece uma visão abrangente e informada sobre o processo do Conclave de 2025 e o futuro da Igreja Católica. A conversa com o Monsenhor Sérgio Costa Couto é rica em detalhes históricos, teológicos e práticos, permitindo que os ouvintes compreendam melhor as complexidades envolvidas na eleição de um novo Papa. A discussão evita polêmicas, concentrando-se em fatos e tradições, e oferece uma perspectiva ponderada e respeitosa sobre o legado do Papa Francisco e os desafios que a Igreja enfrentará nos próximos anos.