No episódio #447 do Flow Podcast, Igor Coelho recebe José Kobori, economista, palestrante e especialista em fusões e aquisições. A conversa aborda desde a trajetória pessoal de Kobori, suas experiências no mercado financeiro e sua visão crítica sobre o capitalismo, até reflexões sobre o sistema político chinês, a hegemonia americana e o impacto da tecnologia na sociedade contemporânea. A entrevista oferece uma análise profunda e conservadora sobre temas complexos, permeada por valores como responsabilidade individual e respeito às instituições.
Apresentando José Kobori
José Kobori se define como um cidadão brasileiro, neto de japoneses que imigraram para o Brasil em 1914. Com uma carreira multifacetada, Kobori trabalhou desde os 10 anos de idade, acumulando experiência no mundo corporativo como executivo da Xerox do Brasil por 13 anos. Posteriormente, dedicou-se ao mercado financeiro por mais de 30 anos, atuando como operador e empresário. Além disso, foi professor de finanças no IBMEC por 10 anos, lecionando para o MBA de finanças e outros cursos.
Análise Detalhada da Conversa
A conversa entre Igor e Kobori permeia diversas áreas, desde o capitalismo financeiro até as relações geopolíticas globais. Vamos explorar os pontos mais importantes da discussão:
Fusões e Aquisições: Uma Visão Estratégica
Kobori compartilha sua paixão pelo mundo das fusões e aquisições (M&A), descrevendo-o como um processo complexo que exige uma compreensão profunda das empresas envolvidas. Ele explica que, muitas vezes, o empreendedor, apesar de conhecer bem o lado comercial, pode não ter o mesmo domínio das áreas de finanças corporativas e planejamento estratégico.
O papel do especialista em M&A é, portanto, fazer um raio X da empresa, identificando tanto seus pontos fortes quanto seus “esqueletos no armário”. Esse processo envolve uma análise minuciosa de todos os aspectos da empresa, desde suas finanças até sua cultura organizacional.
Crítica ao Capitalismo Financeiro e a Financeirização da Economia
Kobori tece duras críticas ao capitalismo financeiro, que, segundo ele, prioriza o retorno sobre o conhecimento do funcionamento real das empresas. Ele observa que muitos analistas do mercado financeiro, focados em comprar e vender ações, carecem de uma compreensão profunda de como os negócios operam no “chão de fábrica”.
Para Kobori, o capitalismo financeiro, ao buscar incessantemente a maximização do lucro, acaba por pressionar os fluxos de saída das empresas, como salários, impostos e pagamentos a fornecedores. Essa pressão, por sua vez, gera desigualdade social e compromete a capacidade de consumo da população.
O capitalismo financeiro, de acordo com Kobori, financia a realização dessa produção. Ele possibilita que trabalhadores com salários insuficientes consumam produtos através de financiamentos, cobrando juros que maximizam o lucro do setor financeiro.
A Ascensão da China e a Quebra de Paradigma
Kobori aponta a ascensão da China como uma possível quebra de paradigma no cenário global. Ele argumenta que, enquanto o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, seguiu um modelo neoliberal que resultou em crescente desigualdade, a China adotou um modelo próprio, baseado no planejamento centralizado e na forte presença do Estado na economia.
O economista destaca que a China conseguiu tirar quase 1 bilhão de pessoas da pobreza extrema, um feito notável que merece ser estudado. Ele ressalta, no entanto, que o modelo chinês não deve ser copiado integralmente, mas sim adaptado à realidade brasileira.
A Importância da Reflexão e da Autocrítica
Kobori compartilha sua própria trajetória intelectual, revelando que, durante muito tempo, aderiu ao pensamento neoliberal por estar imerso no mercado financeiro e cercado de pessoas com as mesmas ideias. Ele reconhece que a falta de tempo para a reflexão e a autocrítica o impediam de questionar o modelo dominante.
Foi somente após um evento traumático em sua vida – sua prisão em 2018 – que Kobori teve a oportunidade de desacelerar, ler outras obras e questionar suas próprias convicções. Essa experiência o levou a desenvolver uma visão mais crítica e humanista da economia e da sociedade.
O Impacto da Tecnologia e o Dilema da Regulação
Kobori expressa preocupação com o impacto da tecnologia, especialmente das redes sociais e das big techs, na sociedade contemporânea. Ele argumenta que essas ferramentas, apesar de oferecerem inúmeras possibilidades, também podem ser utilizadas para manipular e controlar a população.
O economista questiona se a China estaria errada ao proibir o acesso a determinadas plataformas e aplicativos, argumentando que essa medida pode ser uma forma de proteger sua população da influência externa. Ele defende a necessidade de um debate aprofundado sobre a regulação das redes sociais, buscando um equilíbrio entre a liberdade de expressão e a proteção da sociedade.
O Valor da Essência Humana e da Autenticidade
Em um momento de grande vulnerabilidade, Kobori compartilha sua experiência com a psicoterapia assistida por psicodélicos, revelando como essa prática o ajudou a ressignificar traumas de infância e a se reconectar com sua essência humana. Ele ressalta a importância de buscar o autoconhecimento e de se libertar das influências externas que moldam nossa percepção do mundo.
Para Kobori, a grande luta da humanidade é contra a manipulação e o controle exercidos pelas big techs, que buscam nos escravizar através do poder econômico. Ele defende a necessidade de uma “viagem para dentro de si mesmo”, buscando a autenticidade e a liberdade interior.
Lições da Prisão: Resiliência e Humanidade
Ao revisitar o período em que estive preso, Kobori demonstra resiliência e capacidade de aprendizado. Ele relata que, apesar das dificuldades, conseguiu estabelecer laços de amizade e respeito com outros detentos, utilizando suas habilidades de comunicação e negociação para amenizar conflitos e promover a harmonia dentro da cela.
Kobori destaca que a experiência na prisão o ensinou a valorizar o tempo, a importância da leitura e a necessidade de se conectar com a essência humana. Ele afirma que, apesar de ter perdido muito com a prisão, também ganhou algo valioso: a oportunidade de se reinventar e de encontrar um novo propósito na vida.
Conclusão
A entrevista de José Kobori ao Flow Podcast oferece uma perspectiva enriquecedora sobre temas complexos e relevantes para o cenário global. Sua trajetória pessoal, marcada por experiências desafiadoras e transformadoras, o capacita a analisar criticamente o capitalismo, a geopolítica e o impacto da tecnologia na sociedade contemporânea.
Ao longo da conversa, Kobori demonstra um compromisso com valores como responsabilidade individual, respeito às instituições e a busca por uma sociedade mais justa e igualitária. Sua visão, permeada por uma análise conservadora e ponderada, convida à reflexão e ao debate construtivo.
O episódio #447 do Flow Podcast é, portanto, uma valiosa contribuição para o debate público, oferecendo uma perspectiva original e inspiradora sobre os desafios e oportunidades que se apresentam ao Brasil e ao mundo.