ELIAS JABBOUR – Flow #435 – 17 de abril de 2025

Neste episódio do Flow Podcast, Igor Coelho recebe novamente Elias Jabbour, renomado intelectual e especialista em China, para uma conversa multifacetada que abrange desde a experiência de Jabbour trabalhando no Novo Banco de Desenvolvimento em Xangai até reflexões sobre o futuro do Brasil e o cenário geopolítico global. A discussão permeia temas como o desenvolvimento chinês, a viabilidade do socialismo, as tensões entre China e Estados Unidos, e a complexa relação entre corrupção e projetos nacionais no Brasil.

Participantes do Flow Podcast #435

  • Igor Coelho: Apresentador do Flow Podcast, conduz a entrevista com perguntas perspicazes e provocações que estimulam a discussão.
  • Elias Jabbour: Intelectual, professor e especialista em China, compartilha suas experiências e análises sobre o desenvolvimento chinês, a geopolítica global e o futuro do Brasil. Sua vasta experiência e conhecimento profundo dos temas abordados enriquecem a conversa.

Análise Detalhada do Vídeo

A conversa inicia-se com uma breve introdução e agradecimentos, seguido de um anúncio sobre uma campanha beneficente da ACD, demonstrando um compromisso com causas sociais. Em seguida, o diálogo mergulha no cerne da experiência de Elias Jabbour na China, onde trabalhou no Novo Banco de Desenvolvimento, também conhecido como o Banco dos BRICS, a convite da então presidente Dilma Rousseff.

A Experiência de Elias Jabbour na China

Jabbour descreve sua estadia de um ano e sete meses na China como “emocionante”, tanto no âmbito profissional quanto pessoal. Ele destaca que, ao revisitar o país, percebeu uma mudança qualitativa significativa em relação às suas experiências anteriores. O desenvolvimento não se limitava mais ao crescimento quantitativo, mas abrangia aspectos como a modernização de cidades interioranas, a expansão do sistema de metrô e o investimento em setores de alta tecnologia.

A prosperidade generalizada e a ausência de pobreza extrema nas ruas da China impressionaram Jabbour. Ele enfatiza a estabilidade social e o otimismo da juventude chinesa, que almeja ser astronauta ou cientista, em contraste com a busca por fama e reconhecimento nas mídias sociais, mais comum em outras culturas.

O Modelo de Desenvolvimento Chinês

Ao analisar os fatores que impulsionam o sucesso chinês, Jabbour aponta três elementos cruciais: um poder político estável, um setor público dominante na produção e um sistema financeiro público eficiente. Ele argumenta que a propriedade pública dos meios de produção permite que o Estado chinês direcione recursos para investimentos estratégicos, como inovação tecnológica e infraestrutura, sem a pressão da financeirização e da especulação imobiliária que caracterizam as economias capitalistas.

Jabbour ressalta que os bloqueios tecnológicos impostos pelos Estados Unidos serviram como um catalisador para a China buscar a autossuficiência tecnológica, impulsionando ainda mais o seu desenvolvimento. Ele compara essa dinâmica com a situação dos Estados Unidos, onde a financeirização da economia tem desacelerado o processo de inovação.

A Segurança Nacional e as Big Techs

A conversa aborda a questão do acesso a serviços de internet estrangeiros na China, como YouTube e WhatsApp. Jabbour explica que as restrições impostas pelo governo chinês não se devem a uma mera questão de censura, mas a preocupações com a segurança nacional e a proteção de dados. Ele argumenta que as big techs americanas operam em prol dos interesses dos Estados Unidos, coletando dados de usuários e potencialmente desestabilizando outros países.

Jabbour defende que a China construiu suas próprias alternativas tecnológicas, como o WeChat, que oferecem serviços tão bons ou melhores que os equivalentes americanos. Ele enfatiza que a prioridade da sociedade chinesa é a segurança e o bem-estar coletivo, e que a busca pela liberdade individual não é um valor universalmente compartilhado.

Taiwan: Uma Questão Complexa

A discussão aborda a questão de Taiwan, frequentemente apresentada como um ponto de tensão entre China e o Ocidente. Jabbour argumenta que a questão é mais complexa do que se imagina, uma vez que a maioria dos países do mundo reconhece Pequim como a capital da China e Taiwan como uma província chinesa. Ele sugere que, para muitos taiwaneses, a prioridade é manter o status quo e evitar um conflito com a China.

O Brasil e a Guerra Tarifária

Jabbour analisa o impacto da guerra tarifária entre China e Estados Unidos no Brasil. Ele argumenta que o país deveria estar preparado para aproveitar as oportunidades geradas por essa disputa, mas que a falta de instrumentos políticos e institucionais adequados dificulta a ação. Ele critica a privatização da Petrobras e os efeitos da Operação Lava Jato, que, segundo ele, destruíram a indústria nacional e abriram espaço para empresas estrangeiras.

A Lava Jato é descrita como um “crime de lesa-pátria”, uma operação forjada no exterior que prejudicou a economia brasileira e gerou instabilidade política. Jabbour questiona se o combate à corrupção justificava a destruição de empresas nacionais e a perda de empregos, e critica o papel dos Estados Unidos na investigação contra a Petrobras.

A Importância do Pensamento Estratégico

Jabbour lamenta a falta de pensamento estratégico no Brasil, que impede o país de definir um rumo claro para o futuro. Ele defende a necessidade de um projeto nacional de desenvolvimento que priorize a industrialização, a inovação tecnológica e a justiça social. Ele argumenta que o Brasil precisa superar a sua “fragilidade ideológica” e acreditar no seu potencial para se tornar uma grande nação.

O Futuro do Brasil e o Papel de Lula

A conversa aborda o cenário político brasileiro e o papel do governo Lula. Jabbour reconhece que o governo enfrenta limitações devido à sua composição heterogênea, mas o vê como um “fio de esperança” para a reconstrução do país. Ele defende a reeleição de Lula ou de alguém simpático a ele em 2026, como forma de impedir o retorno da extrema direita ao poder.

Jabbour critica a postura de alguns setores da direita, que considera “entreguistas” e alinhados com os interesses dos Estados Unidos. Ele defende a necessidade de disputar com os bolsonaristas os valores da pátria e da soberania nacional, e de resgatar o legado patriótico da esquerda brasileira.

A Experiência com Dilma Rousseff

Jabbour compartilha sua experiência trabalhando com Dilma Rousseff no Novo Banco de Desenvolvimento. Ele a descreve como uma pessoa de “trato difícil”, mas reconhece sua inteligência e sua história de resistência à ditadura. Ele enfatiza o orgulho de ter trabalhado com uma figura histórica tão importante.

A Revolução Tecnológica Chinesa

A conversa aborda a revolução tecnológica em curso na China, impulsionada por investimentos maciços em pesquisa e desenvolvimento. Jabbour destaca o caso da DeepSic, uma empresa que surgiu a partir de um programa estatal de apoio a startups e que produz chips de inteligência artificial a um custo muito inferior ao das empresas americanas.

Ele argumenta que a inovação tecnológica requer investimentos estatais significativos, uma vez que a maioria das tentativas de inovação fracassam. Ele critica a política de austeridade fiscal, que impede o Brasil de investir em áreas estratégicas para o seu desenvolvimento.

A Viabilidade do Socialismo

A discussão retorna à questão da viabilidade do socialismo. Jabbour argumenta que o capitalismo já está em crise em muitos lugares do mundo, e que o socialismo oferece uma alternativa para a construção de uma sociedade mais justa e próspera. Ele defende a necessidade de um setor público forte, capaz de direcionar recursos para investimentos sociais e infraestrutura.

Jabbour ressalta que a China, apesar de suas contradições, tem conseguido entregar resultados superiores aos dos países capitalistas em áreas como infraestrutura, educação e combate à pobreza. Ele argumenta que a China representa um modelo de desenvolvimento alternativo, que pode inspirar outros países do Sul Global.

A Superação da Dicotomia Micro/Macroeconomia

Jabbour explica que a China tem buscado superar a dicotomia entre microeconomia (a lógica do lucro das empresas) e macroeconomia (os interesses da sociedade). Ele argumenta que o Estado chinês tem imposto limites ao setor privado, obrigando as empresas a investir em projetos sociais e a seguir as diretrizes do governo.

Ele conclui que a política é o exercício da busca de convergência com os diferentes, e que o Brasil precisa superar suas divisões internas para construir um projeto nacional de desenvolvimento que beneficie a todos.

Conclusão

O episódio do Flow Podcast com Elias Jabbour oferece uma análise complexa e multifacetada do cenário global, com foco no desenvolvimento chinês e suas implicações para o Brasil. Jabbour demonstra um profundo conhecimento dos temas abordados, apresentando argumentos embasados em dados e em sua vasta experiência. A conversa estimula a reflexão sobre o futuro do Brasil e a necessidade de um projeto nacional de desenvolvimento que priorize a soberania, a justiça social e a inovação tecnológica. Jabbour defende a importância do pensamento estratégico e da superação das divisões internas para que o Brasil possa se tornar uma grande nação. Ao final, Jabbour faz um chamado à união e à busca por pontos de convergência, incentivando o diálogo e o debate como ferramentas para a construção de um futuro melhor para o país.


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